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Novo álbum
Época online: 2006
NOVO ÁLBUM: Inquieta, Fernanda Porto percorre novos caminhos musicais em seu novo trabalho
Até pouco tempo atrás, o público que conhece Fernanda Porto costumava vê-la cercada de instrumentos em seus shows. A atitude tinha dois motivos: primeiro por necessidade, já que ao lançar seu primeiro CD (Fernanda Porto - 2002 ), Fernanda não tinha gravadora. Fez tudo sozinha em seu própria estúdio. Segundo - como ela mesma diz -, pela falta de autoconfiança. Ela temia perder sua personalidade, ou melhor, a da sua música.
Agora, em seu terceiro álbum, um CD e DVD gravados ao vivo em São Paulo, já é possível ver Fernanda mais "livre" no palco. O teclado já não a afasta tanto do público e ela se sai muito bem quando só está com o microfone na mão. Até arrisca alguns passos de dança. Não deixa de tocar seus instrumentos. Faz isso nas horas certas. Em outras, acerta em se concentrar somente no seu canto.
Sua música também mudou. A Fernanda do primeiro disco - que ficou conhecida como "a voz brasileira do drum'n' bass" - respira novos ares. Na verdade, foi uma mudança gradativa. Seu segundo CD (Giramundo - 2004) já trazia uma artista que se valia do pop e do rock em suas canções. Neste terceiro trabalho, ela não perde seu diálogo com a música eletrônica, ao contrário, usa-a para dar um frescor a ritmos como o samba, o samba-reggae, o pop e o rock.
De gravadora nova - ela saiu da Trama e assinou contrato com a EMI -, Fernanda experimenta uma fórmula não muito tradicional para o formato ao vivo: das 19 músicas do DVD (14 no CD), 11 são inéditas. Sucessos do seu repertório como Só Tinha de Ser com Você (música que a fez famosa no exterior com uma versão remix do DJ Patife) e Sambassim dividem espaço com composições de Marcelo Camelo (Samba a Dois) e Rodrigo Amarante (Sentimental).
Como convidados, Fernanda recebe a baiana Daniela Mercury ,que empresta sua ginga em Tudo de Bom e Desde Que o Samba É Samba, o guitarrista Edgard Scandurra em Pensamento 4 (parceira dela com Arnaldo Antunes) e o DJ Zé Pedro, que incendeia a platéia com a versão de Corações a Mil, antigo sucesso de Marina Lima.
Em entrevista a ÉPOCA Online, Fernanda Porto revela o motivo de sua saída da gravadora Trama, fala da evolução de sua música e diz: "Muitos pais me agradecem por eu ter apresentado Chico Buarque aos filhos deles".
ÉPOCA Online - Você saiu da gravadora Trama, que tem um conceito mais independente, e foi para a EMI, que é uma multinacional. Você foi em busca de quê?
Fernanda Porto - Na verdade, eu estava insatisfeita com a Trama porque eles queriam que eu gravasse um DVD em estúdio. Eles achavam que seria interessante mostrar para as pessoas como eu trabalhava em estúdio. Mas não era o que eu queria. Se era para gravar um DVD, eu queria que fosse ao vivo, com público, banda... Eu já passei da fase de trabalhar sozinha em estúdio. Para mim, como cantora, não era interessante. Eu comecei a atrasar o projeto até que revelei para a Trama que não estava a fim de fazer. Aí recebi o convite da EMI e aceitei, sem saber o que a gravadora queria de mim. Acabou aparecendo o convite de fazer um DVD, dessa vez ao vivo. Eu pude fazer algo em que me senti 'a vontade, mostrar tudo o que eu queria. Não houve uma pré-definição de qual estilo ou disco eu teria que fazer. Eu gosto dessa mistura, de ser eclética. Só no primeiro disco que eu me dediquei totalmente ao eletrônico, mas o segundo já não foi assim. Só que o segundo (Giramundo - 2005) não chegou a ser conhecido...
ÉPOCA Online - Por culpa da Trama?
Fernanda - Sem dúvida. Muita gente nem sabe que eu tinha um segundo disco. Fiz um álbum diferente, com vários estilos e isso não foi explicado ao público. Colocaram uma drum'n'bass para tocar nas rádios e todo mundo foi procurar um álbum só nesse estilo. Obviamente não encontraram...
ÉPOCA Online - E o formato ao vivo? Já era algo que você planejava fazer?
Fernanda - Eu sou muito pé no chão. Pensava em fazer, só não sabia como. Mas a EMI me perguntou o que eu queria. Eu expus minhas idéias, perguntei se poderia usar cordas, metais...Tive somente 15 dias para ensaiar e fazer os arranjos. Chamei a Christiane Neves para fazer parte dos arranjos. Ela foi fundamental no projeto.
ÉPOCA Online - No começo da sua carreira, você ficou conhecida por ser uma multiinstrumentista, que tocava vários instrumentos durante seus shows. Neste projeto, em algumas músicas você apenas canta. Você está mais centrada no seu lado cantora?
Fernanda - De certa forma, posso dizer que entrei nesse DVD para curtir. Eu adoro tocar nos shows, mas 'as vezes vira uma muleta para eu me esconder. Por vezes você não se expressa tão bem, porque está tocando guitarra e não pensa tanto na execução vocal. Para mim, foi um prazer só cantar em algumas faixas. Agora eu acostumei, não gosto mais de ficar escondida no palco atrás dos instrumentos.
ÉPOCA - Na gravação desse álbum você recebeu quase 30 músicos no palco, algo bem diferente da Fernanda que tocava tudo praticamente sozinha. Em que isso altera sua música?
Fernanda - Quando gravei meu primeiro disco sozinha, não tinha nem gravadora, fiz tudo no meu estúdio. Não tinha nem como chamar ninguém. Também houve a questão de eu querer preservar o conceito do meu trabalho. Hoje, já consigo fazer esse diálogo, ou seja, consigo dividir os arranjos e produção com outros músicos. Isso tem a ver com autoconfiança, você saber que pode dividir responsabilidades sem perder sua personalidade.
ÉPOCA Online - Nesse álbum, você dá destaque ao samba. Você sempre ouviu samba? Ele tem influência na sua formação musical?
Fernanda - De 1990 até 2002, o pop brasileiro era muito legal e nessa fase tudo o que eu fazia de MPB eu rejeitava. Mas ao mesmo tempo eu lembrava que, quando era criança, eu brincava de compor e tudo o que eu fazia era samba. Então reconheci que por mais que a gente queira se espelhar em alguma banda que a gente goste, as influências vêm da infância mesmo. Tanto é que o drum'n'bass virou um veículo para eu voltar à MPB carregando um certo frescor. Mas eu sempre ouvi o samba mais contemporâneo quando eu era criança, da década de 70 e 80. Agora que eu estou começando a ouvir sambas mais antigos.
ÉPOCA Online - No começo de sua carreira, você pegou músicas de Tom Jobim e Chico Buarque e fez novas versões, recheadas de música eletrônica. Muita gente torceu o nariz para você nessa época?
Fernanda - Por incrível que pareça, não. Eu diria até que tive muita sorte. Acho que é porque eu sempre respeitei as harmonias originais das músicas. Muitos pais de adolescentes vão aos meus shows e me agradecem por eu ter apresentado Chico Buarque aos filhos deles...
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